Enquanto grande parte do mundo ocidental ainda discute as melhores formas de incentivar a mobilidade elétrica, a China carregou no acelerador. Um ambicioso programa nacional de trocas, lançado há cerca de seis meses, está a gerar resultados impressionantes, com mais de 8,47 milhões de bicicletas elétricas novas a chegar às estradas só na primeira metade de 2025.
Este programa, que oferece subsídios generosos a quem troca a sua bicicleta elétrica antiga por um modelo mais novo, seguro e eficiente, desencadeou uma autêntica febre de compras num país onde este meio de transporte já é rei. O impacto é visível e mostra como uma política bem direcionada pode transformar um mercado.
Como um simples incentivo mudou o mercado
A iniciativa do governo chinês é simples na sua essência: dar um incentivo monetário para que os utilizadores se desfaçam dos seus modelos antigos. O valor do subsídio varia consoante a região e a bicicleta entregue, mas para muitos consumidores, a ajuda cobre uma parte tão significativa do preço que a decisão de comprar um modelo novo torna-se quase imediata. Aquilo que era um plano para “o próximo ano” passou a ser uma compra para “agora mesmo”.
Os números falam por si. Em províncias importantes como Jiangsu, Hebei e Zhejiang, foram vendidas mais de um milhão de bicicletas elétricas novas em cada uma, num período de apenas seis meses. É uma verdadeira onda de vendas que está a varrer o país.
O sucesso do programa reflete-se num aumento de vendas de 643,5% em comparação com o ano anterior. A produção também teve de acompanhar o ritmo, com um crescimento de quase 28% para responder à procura avassaladora.
Mais do que números: um salto em segurança e tecnologia
Esta iniciativa vai muito além de simplesmente colocar mais bicicletas nas ruas. O principal objetivo é retirar de circulação milhões de modelos mais antigos, muitos dos quais equipados com baterias de iões de lítio de baixa qualidade que representavam sérios riscos de segurança.
A aposta agora é em tecnologia de ponta. O programa impulsionou a procura por modelos de maior qualidade, com sistemas de travagem mais seguros, componentes eletrónicos mais fiáveis e, acima de tudo, baterias mais seguras e eficientes. A China está a promover ativamente não só baterias de iões de lítio de qualidade superior, mas também o regresso de uma nova geração de baterias AGM de alto desempenho e até mesmo as novas e interessantes baterias de iões de sódio.
Esta renovação da frota representa um enorme passo em frente na segurança e na sustentabilidade da micromobilidade no país. Os utilizadores não estão apenas a comprar uma bicicleta nova; estão a investir num transporte mais seguro e tecnologicamente mais avançado.
A economia local também pedala nesta onda de sucesso
Os benefícios deste boom não se ficam pelas grandes empresas. Embora gigantes do setor como a NIU tenham visto os seus relatórios financeiros a refletir este crescimento, o verdadeiro impacto sente-se na economia local.
Mais de 82.000 pequenos revendedores independentes de bicicletas elétricas reportaram um aumento médio nas vendas de 302.000 iuanes (cerca de 38.500 euros). Este é um impulso financeiro significativo para pequenos negócios em todo o país, que ajuda a dinamizar as economias locais e a criar um ecossistema mais robusto em torno da mobilidade elétrica.
No total, mais de 8,4 milhões de consumidores já participaram no programa de trocas, mostrando a adesão massiva da população a esta medida. O que é particularmente notável é a rapidez com que tudo aconteceu. O programa foi lançado no final do ano passado como parte de um esforço mais amplo para estimular o consumo interno e, em menos de um ano, já remodelou completamente o mercado.
E no Ocidente? Uma lição a aprender com a China?
A realidade chinesa contrasta fortemente com a da Europa ou dos Estados Unidos. Enquanto na China a maioria das famílias já possui uma bicicleta elétrica e vê o programa como uma oportunidade de modernização, no Ocidente o desafio ainda é convencer os cidadãos a comprar a sua primeira bicicleta elétrica.
O caso chinês serve como um estudo fascinante sobre o poder dos incentivos governamentais. Mostra que, com a abordagem certa, é possível acelerar a mudança para transportes mais ecológicos e seguros em grande escala.
É demasiado cedo para saber se este boom será sustentável a longo prazo, mas o sucesso inicial é inegável. A China demonstrou que levar a sério a micromobilidade elétrica pode trazer resultados rápidos e visíveis. Se alguma vez te perguntaste como seria um país a apostar forte neste setor, a resposta está à vista de todos, a pedalar pelas ruas chinesas.
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