Google ‘enfraqueceu’ Fitbit para não competir com Pixel Watch

No mundo dos wearables, a linha Fitbit Sense conquistou muitos utilizadores pela sua combinação de fitness tracking avançado e funcionalidades de smartwatch num formato discreto e com boa bateria. No entanto, após a aquisição da Fitbit pela Google, o futuro desta linha parece incerto, e um recente artigo de opinião avançou uma teoria forte sobre o porquê.

C. Scott Brown, num texto publicado no Android Authority, argumenta que a Google terá “enfraquecido” intencionalmente a linha Fitbit Sense, porque o modelo original era demasiado bom e representava uma concorrência interna indesejada para o Pixel Watch da própria Google. Esta perspetiva lança uma luz crítica sobre as decisões da Google desde que integrou a Fitbit na sua estrutura.

A ascensão e queda (alegada) do Fitbit Sense

A história, segundo o autor do artigo de opinião, começa em 2020 com o lançamento do Fitbit Sense. Inicialmente posicionado como um fitness tracker avançado, o dispositivo foi evoluindo ao longo do tempo através de atualizações de software. Foram adicionadas funcionalidades que o aproximaram de um smartwatch completo, incluindo suporte para o Assistente Google e uma lista de aplicações de terceiros, ainda que pequena. Em 2021, na visão do autor, o Sense tinha-se tornado um smartwatch “de pleno direito”.

O próprio C. Scott Brown adotou o Fitbit Sense original como o seu dispositivo principal desde o lançamento e usou-o diariamente por mais de três anos. Ele relata ter adorado o wearable, destacando a sua autonomia de bateria notável, que podia chegar a uma semana dependendo das configurações. O Sense, na sua experiência, fazia tudo o que ele precisava num formato leve e discreto: monitorizava métricas de saúde com precisão, entregava notificações do smartphone silenciosamente no pulso, respondia aos comandos de voz e até tinha uma aplicação para usar no Starbucks.

Embora reconhecesse que não tinha a potência e versatilidade de um smartwatch baseado em sistemas operativos mais complexos, para ele, o Sense cumpria todos os requisitos e precisava de ser carregado apenas por “alguns minutos por dia” para “durar basicamente para sempre”, uma qualidade rara no mundo dos smartwatches.

fitbit sense google

O ponto de viragem: a aquisição pela Google e o Sense 2

O cenário começou a mudar em 2021, quando a Google finalizou a compra da Fitbit. Em 2022, com o lançamento do Fitbit Sense 2, a Fitbit já era firmemente uma empresa da a Google. É aqui que reside a principal crítica do autor. Ele expressa a sua grande deceção ao constatar que funcionalidades que tornavam o Sense original tão bom foram removidas do Sense 2.

Essa lista de remoções inclui o suporte para o Assistente Google, o suporte para aplicações de terceiros, controlos de música e até mesmo o suporte para Wi-Fi, algo que o autor considera quase inacreditável num modelo sucessor. Na sua opinião, o Sense 2 foi “objetivamente pior” do que o produto que substituiu, um acontecimento raro e negativo no mercado de tecnologia de consumo. Esta remoção de funcionalidades é vista pelo autor como um resultado direto da integração da Fitbit na Google e das decisões tomadas pela nova proprietária.

Sinais do desmantelamento: adeus aos smartwatches Fitbit e ao assistente

Para C. Scott Brown, as decisões posteriores da a Google apenas reforçaram a sua teoria de que a empresa estava a desmantelar a linha Sense (e Versa, que partilha muitas características) para evitar concorrência interna. Ele já tinha especulado, na altura do lançamento do Pixel Watch original (que também chegou em 2022), que a a Google estaria a forçar a Fitbit a fazer estas escolhas de design para que o seu próprio smartwatch parecesse mais apelativo.

A sua teoria ganhou força em agosto de 2024, quando a Google essencialmente confirmou que a Fitbit deixaria de fabricar smartwatches próprios. E mais recentemente, “no início deste mês” (maio de 2025), surgiu a notícia de que a Fitbit deixará de oferecer suporte para o Assistente Google nos modelos mais antigos que o integravam, como o Sense original e o Versa 3. Para o autor, isto é “a escrita na parede”: a Google matou o futuro das linhas Sense e Versa e está lentamente a desmantelar o que delas resta.

A comparação direta: Fitbit Sense original versus Pixel Watch 3

O autor, que entretanto mudou para um Google Pixel Watch 3 (variante de 45mm) como o seu smartwatch principal, admite gostar e recomendar o dispositivo, especialmente a utilizadores de telemóveis Pixel. Ele reconhece que o Pixel Watch 3 é poderoso, versátil, oferece todas as funcionalidades de fitness tracking dos modelos Sense e tem uma biblioteca de aplicações muito mais robusta, beneficiando do ecossistema Wear OS.

No entanto, a sua principal crítica e ponto de comparação que sustenta a sua teoria centra-se na bateria. Embora o Pixel Watch 3 tenha melhorado a autonomia em relação ao Pixel Watch original, na visão do autor, a sua duração de bateria “não consegue competir” com a do Sense original. Ele não fala em horas, mas sim em “dias de diferença” na autonomia.

Para C. Scott Brown, a autonomia da bateria é a sua “principal preocupação” com qualquer dispositivo tecnológico hoje em dia. Um smartwatch, por melhor que seja, não é muito útil se não conseguir durar um fim de semana completo sem precisar de ser carregado. O Pixel Watch 3 consegue fazê-lo “se tiveres cuidado para não fazer muito activity tracking”, mas não é tão “usa e esquece” como era o Sense original. Ele é categórico: “Fitbits são reis da bateria – e smartwatches Pixel definitivamente não são.”

Ele argumenta que, mesmo ignorando a enorme diferença de autonomia, o Pixel Watch 3 não está assim tão à frente do Sense original, que saiu em 2020. O Sense original tinha grande parte do hardware de tracking de saúde do Pixel Watch 3 e podia ler, responder a notificações e até atender chamadas, funcionalidades que o tornavam muito competitivo antes de a Google começar a “mexer” nele e a remover funcionalidades.

A crítica à estratégia da Google e um futuro hipotético perdido

O que mais frustra o autor é a sua crença de que a Google “nem sequer tentou” fazer o Pixel Watch significativamente melhor que o Sense. Ele pensa que se a Fitbit, antes da Google, conseguiu criar algo tão bom como o Sense original, então a Google, com os seus recursos e talentos, teria capacidade para criar um Pixel Watch que o superasse em todos os aspetos.

Em vez disso, na sua opinião, a Google “escolheu o caminho fácil”. Comprou a Fitbit, “cortou” as linhas Sense e Versa (ao remover funcionalidades e confirmar o fim da produção de smartwatches próprios) e depois disse: “Olha, aqui está o Pixel Watch.” Para ele, isto soa a “batota”.

O autor chega a especular sobre o potencial perdido. Ele acredita que, se a Google tivesse dado liberdade à Fitbit para desenvolver um Sense 2 sem as restrições impostas (mantendo e melhorando as funcionalidades originais), e se esse dispositivo hipotético tivesse sido colocado numa caixa com o design elegante de um Pixel Watch, o Pixel Watch original teria sido “extraordinário”. Seria um dispositivo com o design de um Pixel Watch, mas com o fitness tracking e a autonomia de bateria de um Fitbit, com a adição de mais aplicações de terceiros e novas watch faces. Esse, para ele, seria um smartwatch “assassino” que compraria “num piscar de olhos”.

No entanto, ele reconhece que a Google provavelmente não o fez porque o seu verdadeiro objetivo com o Pixel Watch era ter um veículo para o Wear OS, o seu sistema operativo para smartwatches. Embora o autor goste do seu Pixel Watch 3 e o considere “faboloso”, não consegue ignorar a sensação de que a sua excelência é, em parte, consequência de a Google ter “enfraquecido” a Fitbit para evitar a concorrência interna. Ele questiona o que esta estratégia diz sobre a Google e a sua aparente urgência em desmantelar as linhas Fitbit Sense e Versa para empurrar utilizadores para o seu smartwatch principal.

Amante de tecnologia, desporto, música e muito mais coisas que não cabem em 24 horas. Fundador do AndroidBlog em 2011 e autor no Techenet desde 2012.