Se tentaste entrar numa partida de Fortnite esta manhã e foste recebido por uma mensagem de erro, não estás sozinho. Se o teu jogo diário de Wordle simplesmente não carregou, a culpa não é da tua internet. E se a loja da Epic Games te parece um deserto digital, há uma boa razão para isso. A internet, ou pelo menos uma parte gigantesca dela, está partida. A culpada? A Amazon Web Services (AWS), a coluna vertebral invisível de grande parte do nosso mundo digital, que está a sofrer uma falha massiva que está a causar um efeito dominó catastrófico, com o mundo dos jogos a ser uma das suas maiores vítimas.
O incidente, que começou por volta das 7:30 da manhã (hora de Lisboa), é um lembrete brutal da fragilidade da nossa infraestrutura online. Um “problema operacional” num único local nos Estados Unidos foi o suficiente para silenciar servidores, frustrar milhões de jogadores e paralisar alguns dos maiores nomes do entretenimento digital.
O efeito dominó: um erro em Virgínia, o caos em todo o mundo
O epicentro do desastre parece ser um centro de dados da AWS na Virgínia do Norte, nos EUA. A página de estado da Amazon confirma um “problema operacional”, mas, para já, o silêncio sobre a causa exata é ensurdecedor. O que não é silencioso é o impacto.
Desde as primeiras horas da manhã, plataformas de deteção de falhas como o Downdetector foram inundadas por queixas de utilizadores de todo o mundo. O problema manifesta-se de várias formas, mas o resultado é o mesmo: não consegues jogar.
- Fortnite, um dos maiores jogos do planeta, está efetivamente offline para muitos. Os jogadores são recebidos com uma mensagem de erro frustrante que os impede de sequer fazer login: “Não é possível iniciar sessão na sua conta para os serviços online. Por favor, tente novamente mais tarde.”
- A Epic Games Store, a loja que distribui o Fortnite e muitos outros jogos, está igualmente de rastos. Tentar fazer login ou simplesmente carregar a página resulta num erro.
- Roblox, a mega-plataforma de jogos sociais, também está a sofrer interrupções severas.
- Até o simples e amado Wordle, o quebra-cabeças de palavras que se tornou um ritual diário para milhões, foi apanhado no fogo cruzado e está inacessível para muitos.
A lista de serviços afetados continua a crescer, provando que não se trata de um problema isolado de uma empresa de jogos, mas sim de uma falha na fundação sobre a qual muitas delas operam.
O gigante ferido: porque é que a AWS é tão importante?
Para o utilizador comum, a Amazon é uma loja online. Mas no mundo da tecnologia, a Amazon Web Services (AWS) é algo muito maior: é o maior fornecedor de serviços de computação na nuvem do mundo. Pensa na AWS como a proprietária de um gigantesco parque industrial digital. Empresas como a Epic Games (criadora do Fortnite), a Netflix, o Airbnb e inúmeras outras não constroem os seus próprios centros de dados; em vez disso, “alugam” espaço e poder de computação nos servidores da AWS.
Esta centralização é eficiente e económica, mas tem um calcanhar de Aquiles, como estamos a ver hoje. Quando uma parte crucial da infraestrutura da AWS falha, não afeta apenas a Amazon; afeta todos os seus “inquilinos”. Um único “problema operacional” na Virgínia é suficiente para criar um apagão digital que se sente em Lisboa, Tóquio ou São Paulo.
Enquanto a equipa de engenharia da Amazon trabalha freneticamente para “mitigar o problema”, como afirmam no seu painel de controlo, milhões de jogadores em todo o mundo estão reféns desta falha. Não há nada que a Epic Games ou os criadores do Wordle possam fazer a não ser esperar que a sua ” senhoria” digital conserte a avaria.
Este incidente é mais do que uma simples interrupção de serviço. É uma demonstração em tempo real da nossa profunda e, talvez, perigosa dependência de um pequeno número de gigantes tecnológicos. Mostra como o nosso lazer, a nossa comunicação e a nossa economia estão construídos sobre fundações que, embora poderosas, não são infalíveis. Por agora, resta-nos esperar. E, talvez, encontrar um bom livro para ler enquanto a internet se reconstrói.
