Apptronik levanta 350 milhões para robô humanoide em corrida tecnológica

A Apptronik, empresa especializada em robótica com sede no Texas, anunciou esta semana uma ronda de financiamento de 350 milhões de dólares (cerca de 324 milhões de euros).

O valor, liderado pela B Capital e Capital Factory, conta com a participação da Google, confirmando o interesse crescente de gigantes tecnológicos em robôs humanoides.

Este financiamento permitirá acelerar a produção do Apollo, o robô humanoide de 1,73 metros concebido para realizar tarefas em setores como a logística ou a saúde.

O CEO Jeff Cardenas descreveu o acordo como “um passo crítico para trazer a robótica avançada das linhas de montagem para o mundo real”. A empresa, que nasceu como spin-off da Universidade do Texas em 2016, já tinha captado 15 milhões de dólares em 2023.

Com esta nova injeção de capital, planeia duplicar a equipa e expandir operações para mercados europeus ainda este ano.

Apollo: um único robô para mil tarefas

Ao contrário de outros modelos especializados, o Apollo foi desenvolvido para executar funções distintas sem necessidade de reprogramação. Com 72 kg, o robô opera em ambientes industriais e de armazém, transportando caixas, verificando stocks ou apoiando linhas de produção.

A versatilidade é a principal vantagem: “Queremos um robô que substitua dezenas de máquinas diferentes”, explica Cardenas em entrevista à TechCrunch.

Os testes-piloto já estão em curso em fábricas automóveis e centros de distribuição nos EUA. A Apptronik prevê que, até 2025, o Apollo esteja a preparar embalagens em armazéns e a assistir profissionais de saúde em tarefas não clínicas, como entregar medicamentos ou ajudar idosos a levantar-se.

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O papel da Google na revolução robótica

A participação da Google no financiamento não é um detalhe menor. A Apptronik confirmou que irá reforçar a colaboração com a equipa de robótica da DeepMind, braço de inteligência artificial da gigante californiana.

Este acordo permitirá integrar algoritmos de aprendizagem automática ao hardware do Apollo, melhorando a sua capacidade de adaptação a novos cenários.

“A combinação de hardware avançado e sistemas de IA generativa será o próximo salto tecnológico”, antevê Cardenas. Os engenheiros da Apptronik estão a trabalhar numa atualização de software que permitirá ao robô reconhecer objetos nunca antes vistos e ajustar os movimentos automaticamente.

Mercado global aquece com concorrência acirrada

A Apptronik não está sozinha nesta corrida. Empresas como a Tesla (com o Optimus) e a Figure AI (apoiada pela Nvidia) também estão a desenvolver robôs humanoides.

Analistas do setor comparam o atual momento ao “boom dos chatbots em 2023”, prevendo que o mercado global de robótica humana ultrapasse os 38 mil milhões de dólares até 2030.

A diferença está na estratégia: enquanto a Tesla foca-se em robôs para uso doméstico, a Apptronik quer conquistar primeiro os setores industriais. “Fabricantes e hospitais já têm infraestruturas que facilitam a integração de robôs”, justifica o CEO.

A empresa já negociou contratos preliminares com empresas de embalagens e um grupo farmacêutico europeu.

Os desafios éticos da automação total

Apesar do entusiasmo, especialistas alertam para riscos. Organizações sindicais europeias temem que a adoção massiva de robôs como o Apollo substitua postos de trabalho não qualificados.

A Apptronik responde que o objetivo é “reduzir tarefas perigosas ou repetitivas”, libertando humanos para funções criativas.

Outro ponto crítico é a segurança. O Apollo foi projetado com sensores que param os movimentos se detetarem contacto humano inesperado. “Estamos a trabalhar com entidades reguladoras para definir padrões globais”, assegura a chefe de operações, Sarah Kim.

O que esperar nos próximos meses

A Apptronik planeia demonstrar publicamente novas capacidades do Apollo na feira tecnológica CES 2025, em Las Vegas. Entre as novidades está um modo de “aprendizagem por imitação”, onde o robô reproduz movimentos observados em humanos.

Para Portugal, a empresa mantém conversas com grupos logísticos e unidades de produção automóvel. “A Europa será um mercado prioritário a partir de 2026”, confirma o diretor comercial, Mark Thompson.

Enquanto isso, o Apollo prepara-se para auxiliar em testes clínicos num hospital de Frankfurt ainda este verão.

Amante de tecnologia, desporto, música e muito mais coisas que não cabem em 24 horas. Fundador do AndroidBlog em 2011 e autor no Techenet desde 2012.