A Citronics, empresa belga de tecnologia sustentável, surpreende ao apresentar uma solução inovadora para o reaproveitamento de dispositivos eletrónicos descartados. Desta vez, o protagonista é o Fairphone 2, um smartphone modular conhecido pelo seu compromisso ambiental, que agora ganha uma nova função como microcomputador.
O conceito é simples, mas engenhoso: a Citronics utiliza a motherboard original do Fairphone 2, equipada com processador Qualcomm Snapdragon 801, e integra-a numa placa de suporte que adiciona portas Ethernet, USB e outras ligações essenciais. Assim, o que antes era apenas um telemóvel antigo transforma-se num microcomputador versátil, pronto para diferentes aplicações — desde gateways industriais até controladores de aquecimento residencial.
Circular Microcomputers: sustentabilidade em primeiro plano
Este projeto faz parte da linha “Circular Microcomputers” da Citronics, que aposta em computadores compactos criados a partir de peças reutilizadas de equipamentos eletrónicos que, de outra forma, acabariam no lixo. Ao reaproveitar componentes como 4G LTE, WiFi e Bluetooth, a empresa reduz o desperdício eletrónico e prolonga o ciclo de vida destes materiais.
O devkit desenvolvido pela Citronics pesa menos de 100 gramas e já traz Alpine Linux pré-instalado. Em termos de conectividade, não fica atrás de muitos dispositivos modernos: oferece Ethernet 10/100Mbps, WiFi, Bluetooth 4.0, quatro portas USB-A, uma porta USB-C para alimentação, GPIO compatível com Raspberry Pi e suporte PoE. Para facilitar o trabalho dos programadores, a empresa promete disponibilizar uma wiki detalhada com toda a documentação necessária.
Parcerias e aplicações práticas: mais do que um conceito
A Citronics não se limita à venda do devkit. Em colaboração com outras empresas e instituições, está a criar soluções personalizadas baseadas no Fairphone 2. Entre os exemplos já em desenvolvimento encontram-se controladores de aquecimento residencial, plataformas de computação para universidades e instalações artísticas que requerem múltiplos ecrãs sincronizados.
Esta abordagem mostra como o reaproveitamento de hardware pode ser adaptado a diferentes contextos, promovendo a inovação e a redução do impacto ambiental. O potencial é vasto: desde a monitorização remota de equipamentos industriais até à criação de sistemas de ensino acessíveis para escolas e universidades.
Vantagens e desafios: vale a pena apostar?
A filosofia por trás deste projeto é clara: dar uma segunda vida a hardware considerado “obsoleto”, mostrando que a sustentabilidade pode caminhar lado a lado com a tecnologia. No entanto, há obstáculos a ultrapassar. O custo do devkit, fixado nos 150 euros, coloca-o numa posição delicada quando comparado com alternativas como o Raspberry Pi, que oferecem maior suporte de comunidade, disponibilidade garantida e preços mais acessíveis.
Ainda assim, para quem valoriza o impacto ambiental e procura soluções tecnológicas sustentáveis, o projeto da Citronics apresenta-se como uma proposta diferenciadora. A aposta em parcerias e na criação de documentação de apoio pode ser crucial para atrair programadores e instituições que pretendam inovar sem comprometer o planeta.
Lista rápida: principais características do devkit Citronics baseado no Fairphone 2
- Processador Qualcomm Snapdragon 801
- Conectividade 4G LTE, WiFi, Bluetooth 4.0
- Ethernet 10/100Mbps
- 4 portas USB-A e 1 porta USB-C para alimentação
- GPIO compatível com Raspberry Pi
- Suporte PoE
- Peso inferior a 100 gramas
- Alpine Linux pré-instalado
- Wiki detalhada para programadores
O futuro dos dispositivos circulares: tendência ou nicho?
A iniciativa da Citronics mostra que há alternativas viáveis para combater o lixo eletrónico e estimular a reutilização de hardware. Embora o caminho não seja fácil, principalmente devido à concorrência de soluções mais acessíveis e com maior suporte, o exemplo do Fairphone 2 convertido em mini-computador pode inspirar outros fabricantes e utilizadores a repensar a forma como consomem e descartam tecnologia.
Se procuras uma solução sustentável e inovadora para diferentes desafios de computação, talvez esteja na altura de olhar para além das opções tradicionais e considerar o potencial dos microcomputadores circulares. Afinal, cada peça reaproveitada é um passo em frente na luta contra o desperdício eletrónico.
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