As taxas do MB Way estão de volta e podem apanhar-te desprevenido

Lembras-te da polémica em torno das comissões no MB Way? Pois bem, o assunto que parecia arrumado numa gaveta está de volta para assombrar a carteira dos mais de seis milhões de utilizadores em Portugal. Depois de um período de acalmia, em que a maioria dos bancos recuou na cobrança de taxas, um dos grandes nomes do setor decidiu reabrir o debate, e a forma como o fez é subtil o suficiente para apanhar muitos de nós de surpresa.

O Novo Banco deu o primeiro passo, reintroduzindo comissões sobre as transferências feitas através da popular aplicação. É uma mudança que, embora pareça pequena, pode ser o prenúncio de uma nova era para a ferramenta de pagamentos mais querida dos portugueses. Se usas o MB Way com frequência, esta é a altura ideal para parares um minuto e perceberes o que está a mudar, para que uma transferência entre amigos não venha com um custo inesperado.

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Uma viagem ao passado: a ‘saga’ das comissões do MB Way

Para percebermos o que está a acontecer agora, temos de recuar a 2019. Foi nesse ano que o BPI abriu a caixa de Pandora, ao ser o primeiro banco a cobrar uma taxa de 1,20€ por cada transferência via MB Way. Como era de esperar, a concorrência não demorou a seguir-lhe as pisadas, e o que era uma ferramenta gratuita e universal começou a ter custos associados, para grande descontentamento dos utilizadores.

A contestação foi tal que o assunto escalou até ao Parlamento. Em julho de 2020, a lei interveio para colocar um travão na criatividade dos bancos, impondo limites claros. Ficou definido que as comissões não poderiam ultrapassar 0,2% do valor transferido e só poderiam ser aplicadas em cenários muito específicos: em transferências de valor superior a 30€, se fizesses mais de 25 operações por mês, ou se o valor total transferido nesse mês ultrapassasse os 150€. Perante estas restrições, e com medo de perderem clientes para os bancos que não cobravam nada, a grande maioria das instituições financeiras simplesmente aboliu as taxas. E assim vivemos, nos últimos anos, numa aparente paz financeira. Até agora.

A nova regra do jogo: a estratégia subtil do Novo Banco

A tranquilidade terminou no dia 24 de julho de 2025. Foi nessa data que o Novo Banco decidiu voltar a cobrar comissões, mas fê-lo com uma astúcia que merece ser analisada. O banco está a aplicar a taxa legal de 0,2% sobre o valor das transferências, mas com uma condição muito importante: a cobrança só acontece se a operação for feita diretamente na aplicação oficial do MB Way.

É aqui que reside a grande mudança e a potencial armadilha para os mais desatentos. Se, por outro lado, fores cliente do Novo Banco e iniciares a mesma transferência através da aplicação oficial do próprio banco, a operação continua a ser totalmente gratuita. Na prática, o que o banco está a fazer é a incentivar (ou a forçar, dependendo do ponto de vista) os seus clientes a usarem a sua própria plataforma em detrimento da aplicação MB Way, criando uma distinção que antes não existia. É uma forma de contornar a perceção negativa das taxas, oferecendo uma alternativa gratuita, ao mesmo tempo que se desincentiva o uso da app que agrega todos os bancos.

O que significa isto para ti e para o futuro dos pagamentos?

Se és cliente do Novo Banco, a consequência imediata é clara: ou mudas o teu hábito e passas a usar a app do banco para fazer transferências, ou começas a pagar por elas. Mas as implicações a longo prazo podem ser muito mais vastas. Esta jogada do Novo Banco pode servir de balão de ensaio para o resto do setor. Se a estratégia resultar e os clientes se adaptarem sem grande alarido, é muito provável que outros bancos sigam o mesmo caminho nos próximos meses.

Por enquanto, instituições como o ActivoBank, o Banco CTT e algumas contas da Caixa Geral de Depósitos continuam a permitir transferências gratuitas diretamente na aplicação MB Way, sem qualquer custo associado. No entanto, a história já nos ensinou que, no mundo da banca, as tendências tendem a propagar-se rapidamente. O regresso das comissões, mesmo que de forma dissimulada, pode ser o início do fim da era dourada do MB Way totalmente gratuito para todos, independentemente do banco ou da aplicação que se usa. O melhor conselho, por agora, é manteres-te atento às comunicações do teu banco e verificares as condições do teu contrato. Aquele euro que poupas hoje pode fazer a diferença amanhã.

Amante de tecnologia, desporto, música e muito mais coisas que não cabem em 24 horas. Fundador do AndroidBlog em 2011 e autor no Techenet desde 2012.