O Spotify viu-se recentemente envolvido numa nova polémica relacionada com conteúdos gerados por inteligência artificial. Tudo começou quando uma música intitulada “Together” apareceu na página oficial do artista Blaze Foley, um nome icónico do country norte-americano, assassinado em 1989. A canção, que nada tinha a ver com o estilo do músico, foi rapidamente identificada pelos fãs e pela editora Lost Art Records como uma fraude, já que Foley faleceu há 36 anos.
A música, criada por IA, não era um tema perdido ou um lançamento póstumo, mas sim uma produção totalmente artificial, publicada com capa, créditos e informações de direitos de autor, como se fosse um lançamento oficial. O caso não foi isolado: também foi detetada uma falsa canção atribuída a Guy Clark, outro artista do country falecido em 2016, igualmente removida depois de alertas da comunidade e dos representantes do músico.
O que torna este caso particularmente preocupante é o facto de estas músicas terem sido carregadas como se fossem autênticas, integrando-se nas discografias dos artistas e enganando fãs e plataformas. O nome Syntax Error surge como detentor dos direitos, mas pouco se sabe sobre esta entidade.

Como as músicas falsas chegaram ao Spotify
A subida destas faixas falsas ao Spotify aconteceu através da SoundOn, uma plataforma de distribuição musical pertencente à TikTok. O processo de verificação de conteúdos do Spotify, que precisa de lidar com dezenas de milhares de novas músicas todos os dias, falhou em detetar a fraude a tempo. Só após a denúncia dos fãs e das editoras é que as músicas foram removidas.
A própria plataforma reconheceu o problema, afirmando que estas situações violam as suas políticas de conteúdo enganoso, que proíbem a utilização do nome, imagem ou descrição de outra pessoa ou marca de forma a induzir em erro. O Spotify garantiu ainda que toma medidas contra distribuidores e licenciadores que não previnam este tipo de fraude, podendo mesmo banir permanentemente quem reincidir.
A escalada dos riscos com a inteligência artificial na música
Embora já existam muitas playlists com músicas geradas por IA no Spotify, normalmente estas são apresentadas com nomes fictícios e identificadas como tal. O que distingue este caso é o uso indevido de nomes de artistas reais, já falecidos, para lançar música que nunca foi criada por eles, confundindo fãs e ameaçando o legado dos músicos.
O debate sobre o papel da inteligência artificial na música não é novo, mas ganha uma nova dimensão quando envolve a apropriação da identidade de artistas desaparecidos. A facilidade com que ferramentas como Suno ou Udio conseguem criar músicas completas, com letras e vozes, coloca desafios sérios à indústria, tanto no que toca à ética como à proteção de direitos de autor.
Medidas para travar o avanço dos deepfakes musicais
Apesar de existirem métodos para verificar a autenticidade das músicas, como a implementação de etiquetas ou marcas de água digitais, muitas plataformas priorizam a rapidez do carregamento em detrimento da segurança. Isto deixa espaço para que conteúdos fraudulentos escapem ao controlo.
A Apple Music e o YouTube também já enfrentaram dificuldades semelhantes, mostrando que este é um problema transversal ao setor. O crescimento das ferramentas de IA para criação musical só vai aumentar a frequência destes casos, tornando urgente a criação de mecanismos de verificação mais eficazes.
O que está em jogo para artistas e para a indústria
No centro desta polémica está a questão de como proteger o legado dos artistas e garantir que os seus direitos, bem como os das suas famílias e editoras, não são violados. Para além do impacto emocional nos fãs, há também questões económicas, já que as receitas e créditos podem ser desviados para entidades sem qualquer ligação ao artista original.
A utilização da IA como ferramenta criativa tem potencial para enriquecer a música, mas quando é utilizada para mascarar a autoria ou enganar o público, transforma-se numa ameaça real. O caso das músicas de Blaze Foley e Guy Clark mostra que é preciso agir rapidamente para proteger a integridade artística e ética no universo digital.
























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