A Inteligência Artificial pode parecer uma entidade etérea que vive na nuvem, mas a sua realidade física é feita de silício, metal e uma sede quase insaciável por energia. A OpenAI, a força motriz por detrás do ChatGPT, acaba de nos dar a dimensão mais clara até à data dessa realidade colossal. A empresa anunciou uma parceria estratégica com a gigante de microprocessadores Broadcom, num acordo que vai muito para além de uma simples compra de componentes. É um pacto para construir, de raiz, um dos motores que irá alimentar o futuro da IA.
Este é o terceiro grande acordo de fornecimento de chips que a OpenAI assina em tempo recorde, depois de já ter garantido parcerias com a Nvidia e a AMD. Mas este é diferente. Não se trata de comprar peças da prateleira; trata-se de criar uma arquitetura à medida, um projeto secreto que já leva 18 meses de desenvolvimento. E os números envolvidos são tão grandes que nos forçam a repensar o que significa construir a próxima revolução industrial.
Mais do que um fornecedor, um arquiteto à medida
Esquece a ideia de que a OpenAI está simplesmente a encomendar chips. O que Sam Altman, CEO da OpenAI, e Hock Tan, CEO da Broadcom, revelaram foi uma colaboração profunda para desenhar e fabricar processadores especificamente otimizados para as necessidades do ChatGPT. A Broadcom não é apenas um fornecedor; é um parceiro no design.
Esta estratégia revela a ambição da OpenAI. A empresa percebeu que, para atingir o próximo nível de performance e eficiência, precisa de hardware que seja uma extensão perfeita do seu software. A Broadcom, conhecida pela sua arquitetura de processadores XPU, é a escolha ideal para esta tarefa, sendo especialista em fazer com que milhares de chips comuniquem entre si de forma ultra-eficiente dentro de um centro de dados.
Como Hock Tan, da Broadcom, afirmou, a IA é “uma revolução industrial” que não pode ser levada a cabo “com um ou dois intervenientes”. A OpenAI está a construir um ecossistema de parceiros de hardware para garantir que não fica dependente de uma única arquitetura, diversificando os seus “fornecedores de cérebros”.

A escala que desafia a imaginação (e as redes elétricas)
É aqui que a história passa do campo da tecnologia para o da engenharia civil à escala planetária. A Broadcom vai fornecer à OpenAI processadores que, no total, vão exigir uma potência de 10 gigawatts (GW).
Para colocar este número em perspetiva:
- Uma central nuclear convencional tem uma capacidade de cerca de 1 GW. Este acordo, por si só, equivale à produção de dez centrais nucleares.
Mas o mais chocante é o plano geral da OpenAI. Sam Altman revelou que a capacidade instalada da empresa é, atualmente, de “pouco mais de dois gigawatts”. Com as recentes parcerias, incluindo esta com a Broadcom, esse número vai saltar para cerca de 30 GW.
Se isto ainda soa abstrato, considera o seguinte: a capacidade elétrica instalada de todo o território dos Estados Unidos é de cerca de 1.189 GW. As novas necessidades da OpenAI, por si só, vão representar vários pontos percentuais de toda a energia consumida por um dos países mais industrializados do mundo.
Não é de admirar que Sam Altman tenha descrito o projeto nestes termos: “Em vários aspetos, pode-se dizer que a construção de infraestruturas de IA é o maior projeto industrial da história da humanidade.”
Chips para “pensar”, não para “aprender”
Outro detalhe crucial revelado por Altman é o propósito destes novos chips. Eles serão usados principalmente para inferência, e não para treino. O que é que isto significa?
- Treino é a fase em que os modelos de IA são construídos, um processo intensivo que consome enormes quantidades de dados e poder computacional durante meses.
- Inferência é a fase operacional, o dia a dia do ChatGPT. É o processo de gerar uma resposta a um pedido teu.
Ao dedicar uma infraestrutura desta magnitude apenas à inferência, a OpenAI está a preparar-se para uma explosão no número de utilizadores e na complexidade dos pedidos. Está a construir uma autoestrada com centenas de faixas, não para construir os carros, mas para garantir que os milhões de carros que já existem conseguem circular a alta velocidade e sem engarrafamentos.
A implementação desta nova infraestrutura começará no final de 2026 e será feita de forma acelerada ao longo dos três anos seguintes. A aposta da OpenAI é clara: as receitas vão continuar a crescer a um ritmo que justifique este investimento monumental. Enquanto nós conversamos com o ChatGPT no nosso ecrã, a OpenAI está, literalmente, a construir o equivalente a dezenas de centrais nucleares para garantir que a conversa nunca pare.


























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