A exploração de Marte pode estar prestes a receber uma frota de batedores improváveis: minúsculos discos voadores que levitam e voam usando apenas a luz do sol. Uma equipa de investigadores desenvolveu protótipos destas pequenas aeronaves que, pesando menos de um miligrama, dispensam motores, hélices ou qualquer parte móvel. O segredo está num fenómeno físico que lhes permite flutuar, abrindo a porta a uma nova e fascinante forma de desvendar os segredos do Planeta Vermelho.
Esta ideia, que parece saída de um filme de ficção científica, é o resultado de um estudo rigoroso publicado na prestigiada revista Nature. E surge num momento perfeito. Depois do sucesso estrondoso do helicóptero Ingenuity da NASA, que provou ser possível voar na atmosfera rarefeita de Marte, a comunidade científica está mais recetiva do que nunca a novas e arrojadas formas de exploração aérea. Prepara-te para conhecer a tecnologia que pode, um dia, enviar um enxame de exploradores solares para os céus marcianos.

Como é que um disco voador levita apenas com luz?
A magia por trás destes pequenos objetos voadores tem um nome: fotoforese. Este é um fenómeno que ocorre quando um fluxo de gás é gerado à volta de um objeto que está a ser iluminado, sendo particularmente eficaz em ambientes de baixa pressão, como a atmosfera de Marte. É precisamente esta a característica que o físico Benjamin Schafer e a sua equipa decidiram explorar.
Para testar a sua teoria, os investigadores construíram pequenas aeronaves com um design muito simples, semelhante ao de um disco voador clássico. Cada uma é composta por duas placas minúsculas. A placa de cima é transparente, enquanto a de baixo foi desenhada para absorver a luz solar. Quando a luz atinge o disco, a placa inferior aquece muito mais do que a superior. Esta diferença de temperatura aquece as poucas moléculas de gás que se encontram por baixo do disco, fazendo com que se movam mais depressa e empurrem o objeto para cima. Em laboratório, ao recriar as condições de baixa pressão de Marte, a equipa conseguiu que estes discos, mais leves que um grão de areia, levitassem com sucesso. É um conceito de uma elegância notável: um motor que não precisa de combustível, apenas de luz.
O legado do Ingenuity: por que voar em Marte é tão promissor
A ideia de usar aeronaves para explorar outros planetas não é nova, mas foi o pequeno helicóptero Ingenuity que a transformou de um sonho numa realidade palpável. Quando chegou a Marte em 2021, a bordo do rover Perseverance, a sua missão era modesta: provar que era possível voar. O plano inicial da NASA previa apenas cinco voos de teste. Ninguém poderia adivinhar o sucesso que se seguiria.
O Ingenuity não só voou, como superou todas as expectativas, completando um total de 72 voos ao longo de quase três anos. Cada voo era mais ambicioso que o anterior, e o pequeno helicóptero rapidamente deixou de ser uma mera demonstração tecnológica para se tornar numa ferramenta de exploração indispensável. A equipa da missão usava-o como um “batedor” aéreo, enviando-o à frente do Perseverance para avaliar o terreno, identificar obstáculos e ajudar a traçar a rota mais segura e interessante. O Ingenuity deu aos cientistas uma perspetiva de Marte que nunca tinham tido antes.
A sua missão terminou em janeiro de 2024, quando uma das suas pás de hélice se partiu durante uma aterragem. Mas o seu legado é imortal. O Ingenuity abriu os céus de Marte à exploração e inspirou uma nova geração de cientistas a pensar em formas ainda mais criativas de voar noutros mundos.
Do laboratório ao Planeta Vermelho: os próximos passos
Apesar do sucesso das experiências em laboratório, é importante lembrar que estes pequenos discos voadores ainda estão numa fase muito inicial de desenvolvimento. O caminho desde uma câmara de vácuo na Terra até às planícies poeirentas de Marte é longo e cheio de desafios. No entanto, o potencial desta tecnologia é imenso.
Ao contrário do Ingenuity, com as suas hélices e motores complexos, estes discos não têm partes móveis, o que os torna muito mais simples, robustos e baratos de produzir. A sua leveza e simplicidade significam que, em vez de enviar um único explorador aéreo, uma futura missão poderia libertar centenas ou até milhares destes pequenos batedores na atmosfera marciana. Um enxame de discos voadores a flutuar silenciosamente sobre as crateras e desfiladeiros de Marte, a recolher dados sobre a atmosfera e a mapear o terreno com um detalhe sem precedentes.
Ainda teremos de esperar algum tempo até que esta visão se torne realidade. Mas uma coisa é certa: o futuro da exploração planetária está a olhar para cima, e os céus de Marte nunca pareceram tão promissores.


























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